(Extraído de https://aliancaevangelica.pt/site/2020/04/03/mudancas-necessarias/)
Vivemos um tempo de grande perplexidade, medo, preocupação, privação. Como cristãos, é a oportunidade de aprofundar a nossa fé. Como Jeremias, podemos dizer: “Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!” Lm 3:21-23
O sofrimento é esperado num mundo que jaz no maligno. Em vez de nos chocarmos com o mal, nós devíamos surpreender-nos com o bem, com o facto de continuarmos amados por Deus, com a bondade de Deus manifesta de inúmeras maneiras - o sol continua a brilhar, a natureza renova-se – e, principalmente, Cristo provou o Seu amor na cruz.
C.S Lewis diz que o sofrimento é o megafone de Deus. É legítimo orar para Deus aliviar o sofrimento, mas precisamos também de perceber a mensagem que Deus está a enviando à humanidade, à sua igreja e a cada um de nós.
Não pretendo ser porta-voz de Deus, mas apenas sugerir algumas linhas de reflexão.
Para a humanidade: esta pandemia mostra que somos todos afectados pelo que acontece na terra, mesmo se for do outro lado do mundo. Mostra que o desenvolvimento tecnológico não se acompanhou de um desenvolvimento social equilibrado. E este desequilibro torna a vida muito precária. Somos frágeis, vulneráveis e efémeros. Daí a necessidade de sermos solidários, de rever as nossas prioridades, este modelo económico insustentável, a grande desigualdade social, a falta de investimento em saúde, saneamento básico e educação, principalmente nos países mais pobres. Como cidadãos, precisamos rever os nossos padrões de consumo, consumir menos bens materiais e mais bens culturais, gerar menos lixo e gastar menos recursos finitos da terra, apoiar acções solidárias em direcção aos excluídos, aos que sofrem, aos desfavorecidos. É notável que, enquanto homens morem asfixiados pelo vírus, a natureza respira, a poluição diminui.
Para a Igreja: perceber que sua essência são as pessoas, que precisamos de investir mais em pessoas que em locais, priorizar o exercício da fé em família, nas casas. Zelar pela qualidade dos nossos vínculos familiares. Rever os nossos modelos e padrões religiosos para promover o exercício dos dons. Não há membro inútil no corpo. No entanto, muitos se contentam em assistir ao culto e, no máximo, contribuir financeiramente. Somos todos sacerdotes, todos missionários e discípulos de Cristo. Chamados a aprender a amar e servir a Deus no outro. Talvez o primeiro passo seja realmente confessar as nossas falhas e omissões e iniciar um processo de mudança: orando e tomando iniciativas. Lembremos 2 Cr 7:13,14 “Se eu fechar os céus, e não houver chuva; ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra; ou se enviar a peste entre o meu povo; E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.”
Individualmente: Deus convida-nos a nos aquietar, entrar no quarto do nosso coração e nos aproximar para aprofundar a nossa intimidade com Ele. Deus convida-nos a derramar o nosso coração e a receber a Sua paz, Fp 4:6,7 “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com acção de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” Aprofundar a nossa intimidade é também aprender a silenciar para ouvi-Lo através da Sua Palavra e das revelações que Ele quiser nos dar.
A partir do seu acolhimento incondicional, podemos olhar para dentro de nós neste tempo de quarentena e de quaresma para identificar e confessar aquilo que distorce a Sua imagem em nós. O pecado distorce a nossa visão de nós mesmos e do mundo. Assim como Jesus curou o cego, ele quer hoje curar a nossa cegueira espiritual.
Que possamos enxergar na Sua Luz para iluminar outros. Sigamos o conselho de Paulo aos Ef 5:8-10 “Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade; e aprendam a discernir o que é agradável ao Senhor.”
Resumindo: Vamos lavar as mãos e também o coração. Aproveitar este tempo de quaresma/quarentena para reflectir sobre a nossa vida, as nossas escolhas, confessar os descaminhos e reorientar a nossa vida de acordo com os valores do Reino, cuidando do nosso coração, do próximo e do mundo que Deus nos confiou.
Estamos vivendo uma crise. Crise, no ideograma chinês é perigo e oportunidade. Se tirar o s, sobra crie! É oportunidade de desenvolver novas habilidades e delinear novas prioridades. Uma paragem para gerar um recomeço. A Graça é a possibilidade de recomeçar sempre!
Que todo o sofrimento deste período seja revertido em transformação para nos tornar mais parecidos com Cristo! Amém!